O fim da estação chuvosa, que em grande parte do país coincide com o verão, nos traz tristes lembranças das tragédias nas áreas urbanas, decorrentes de enchentes e deslizamentos de terras, que os especialistas apontam como consequência do crescimento desordenado, resultando na impermeabilização do solo, o que impede a absorção da água.
Esse fenômeno remonta a meados do século passado, cuja crescente expansão urbana fez com que o poder público implementasse programas de canalização de córregos e construção de avenidas nos fundos desses vales, cujas construções e pavimentos reduziram sensivelmente a área de absorção, fazendo com que a água escoasse rapidamente para os rios.
Como não é possível reverter essa situação, pesquisadores do Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) elaboraram uma nova tecnologia de asfalto, denominado poroso, cujo objetivo foi de criar um revestimento com comportamento similar à areia da praia, que retarde em 50% a velocidade com que a água chegue ao destino final, pois, ao ficar retida nas ruas, contribuirá significantemente para a diminuição das enchentes.
Essa iniciativa faz parte de um conjunto de medidas de combate às cheias, uma vez que existe um consenso de que o aumento da permeabilidade é medida essencial para reduzir o impacto das enchentes, pois incrementa a absorção da água e reduz a criação das chamadas “ilhas de calor”, fator preponderante na potencialização das tempestades.
Além de poder ser usado ao longo das vias públicas e em grandes áreas pavimentadas, como estacionamentos a céu aberto, o novo asfalto pode se integrar ao esforço que começa a ser desenvolvido nas grandes cidades, uma vez que as técnicas comerciais de combate às cheias se mostram insuficientes, que é a renaturalização dos córregos, que prega o fim da canalização de concreto e da impermeabilização das margens.
A retirada do concreto é uma grande aliada no combate às enchentes, pois aumenta a absorção pelas margens e retarda a chegada aos pontos críticos, e vem sendo adotada no exterior, em cidades como Seul, que transformou um canal poluído e fétido em parque, ou Paris, onde, no La Bièvre, estão sendo retirados canais construídos há 200 anos, e nos Estados Unidos, onde foi criado um manual de orientação à renaturalização dos rios.
Do ponto de vista econômico, o novo asfalto apresenta um custo 25% superior ao convencional, decorrente da utilização de matéria-prima de melhor qualidade, um tipo de asfalto que permite a passagem de água e um plástico não convencional, além do custo de regulagem da usina, quando produzido em conjunto com o asfalto tradicional.
Curioso é o fato de que a existência do asfalto poroso não é nova, uma vez que sua criação remonta à década de 1980, voltada para combater uma questão de segurança nas estradas, decorrente do fenômeno da aquaplanagem, que reduz a aderência do veículo quando atravessa uma lâmina d’água.
A técnica hoje em estudo, voltada para a diminuição no escoamento, poderá entrar em operação dentro de dois anos, entretanto possui restrições, pois, não poderá ser aplicada em vias de trânsito pesado, pois resiste no máximo a caminhões de pequeno porte, o que leva a uma estimativa de utilização em 40% das ruas de uma cidade como São Paulo.
Independente disso, trata-se de uma grande contribuição ao combate desse problema urbano que são as enchentes, que chega no bojo de diversas outras iniciativas, inclusive de natureza tributária, como a discussão de leis de incentivo fiscal ao contribuinte que aumente a permeabilidade do solo.
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