O conceito multiuso

Publicado em 26 de outubro de 2014 - Advogado/Engenheiro Francisco Maia Neto

O crescimento dos grandes conglomerados urbanos, que faz com que nossas cidades se multipliquem como metrópoles com milhões de habitantes, não tem permitido a realização de projetos estruturantes que atendam à demanda crescente, especialmente no que se refere à mobilidade urbana, cujo transporte público se mostra caótico e a utilização do automóvel é ascendente, alimentando um ciclo vicioso que acarreta uma série de problemas que afetam o nosso cotidiano.

Nesse contexto, enquanto os projetos de infraestrutura, que exigem longa maturação não chegam, é natural que surjam ideias para combater o caos que se formou em alguns locais, o mercado, com sua habitual sabedoria tem buscado soluções e adequação a esta nova realidade, amenizando assim os problemas enfrentados pelo cidadão comum.

Assim surgiu o conceito multiuso, essa solução arquitetônica e urbanística que procura reunir em um único empreendimento múltiplas funções, ou como ensina o renomado arquiteto peruano Bernardo Fort-Brescia, professor da Universidade de Harvard e titular de um dos maiores escritórios de arquitetura do mundo, esta é uma modalidade que se assemelha a um cubo mágico, ou a um quebra cabeças.

Segundo este renomado profissional, responsável por projetos dessa natureza em mais de 60 países, esta visão se deve a necessidade de combinar diversas peças em um único espaço, ou seja, é imperativo saber como projetar hotéis, escritórios, lojas corporativas, apartamentos e shoppings, e em seguida decidir como encaixá-los, o que exige criatividade e imaginação, pois não existe uma fórmula acabada.

Edificações classificadas como multiuso exigem uma difícil combinação de espaços e tipos de ocorrência, locais onde devem ser pensados diversos itens, tais como garagens, docas de descarga, circulação de visitantes e a infraestrutura de residenciais, escritórios, hotéis e lojas, resultando em uma série de interferências, onde o projeto exige redobrada atenção, não permitindo, por exemplo, que uma pessoa utilize o estacionamento do shopping para chegar ao seu apartamento.

Embora o conceito tenha surgido com os grandes complexos, executados em terrenos com área significativa, permitindo assim construir horizontalmente, ele avançou também para os pequenos terrenos, onde a modelagem pode diferir um pouco, primeiramente porque as funções são reunidas em uma única torre e também porque não permite reunir todas as funções tradicionais (shopping, escritório, residência e hotel) em um único local, mas resultando em uma combinação parcial.

Outra realidade verificada nesses empreendimentos em outros países, especialmente cidades como Hong Kong e Nova York, é a aquisição de prédios antigos, já deteriorados ou que não exploram toda sua capacidade, que são demolidos para dar lugar a uma nova edificação, com maior espaço e dentro dessa conceituação.

No Brasil o conceito parece que veio para ficar, prova disso é a proliferação desses edifícios, ganhando destaque no segmento imobiliário, como em São Paulo, onde um palacete foi restaurado e ficará ao lado de uma torre de 24 andares, cujo terreno de 6.500,00 m2 abrigará um bosque com remanescentes da Mata Atlântica, enquanto uma área de 218.000,00 m2 na Marginal do Rio Pinheiros receberá cinco torres residenciais, um shopping center, duas torres corporativas e ainda uma para escritórios.

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