"Caso sejam feitos investimentos em sustentabilidade, a economia a médio e longo prazo gira em tomo de 30% nos gastos com água e energia"
Nos últimos anos, o verbete sustentabilidade passou a freqüentar o cotidiano das pessoas, tantas são as citações que encontramos nos mais diversos segmentos. O fato pode ser explicado pela consciência de que os recursos planetários são finitos; no entanto, o ser humano não pode interferir prejudicialmente nos ciclos naturais, privando as gerações futuras de sua assistência.
A primeira ocorrência dessa preocupação foi registrada em 1972, quando o Clube de Roma publicou o relatório "Limites do crescimento". Mas especialistas apontam que a primeira pessoa a utilizar o termo foi a ex- primeira-ministra norueguesa Gro Brundtland, em 1987, na condição de presidente de uma comissão da ONU, no livreto intitulado OurCommon Future. Ela afirmou que "o desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as próprias necessidades".
Nesse sentido, cumpre esclarecer que a abrangência da sustentabilidade alcança qualquer empreendimento humano, podendo ser um país e até mesmo uma família. Mas, para receber essa credencial, precisa ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.
A construção civil, que tem vivido recentemente uma fase frutífera, cujos aumentos nos ganhos, valorização de seus profissionais e expansão do mercado retratam parte desta realidade, deve estar atenta às demandas da sociedade na qual está inserida, especialmente por se tratar de uma atividade de transformação, caracterizando-se como um dos setores que mais consomem recursos naturais e gera grandes quantidades de resíduos.
Como as questões ambientais têm ocupado, gradativamente, cada vez mais espaço nos problemas dos países - desenvolvidos ou não -, essa quantidade de resíduos deixada por construções, cerca de cinco vezes maior do que de outros setores, tornou-se um dos, centros de discussões da sustentabilidade.
Na cidade de Belo Horizonte, já é possível observar parte dos resíduos das construções sendo destinada a obras populares ou de caráter público, possibilitando a substituição de matérias-primas tradicionais. Existem algumas ações, como o uso de tintas sem solvente e materiais menos agressivos de forma geral, que têm melhorado a qualidade do ar e do espaço interno. É possível observar também a redução de desperdícios com água e energia, como uso mais consciente dos sistemas de ar-condicionado, a inibição do uso desnecessário e simultâneo dos elevadores e a utilização de energia solar. São práticas que podem fazer uma grande diferença e começam a ser implementadas.
Dessa forma, empreendimentos que se baseiam nessas premissas e se enquadram nesse conceito devem resultar em impactos positivos nos grupos humanos por eles afetados, não só agora, mas também no futuro. Embora pesquisas recentes indiquem aumento de cerca de 5% nos gastos no processo de construção, caso sejam feitos investimentos em sustentabilidade, a economia a médio e longo prazo gira em torno de 30% nos gastos com água e energia. Isso mostra como são compensados os gastos extras.
Esse é um diferencial que começa a distinguir as construções ambientalmente responsáveis. Os critérios utilizados para avaliar os empreendimentos sustentáveis são aqueles reunidos em um tripé, denominado por alguns como os 3 pês, definido pelo consultor inglês John Elkington como Planet, People and Profit (planeta, pessoas e lucro). O foco, assim, se concentra no meio ambiente e nas pessoas, sem abandonar a preocupação com a viabilidade econômica do projeto.
O caminho para a credibilidade passa também pelo processo de certificação, como, por exemplo, a obtenção do certificado Leadership in Energy and Environrnental Design (Leed), emitido pela organização United States Green Builting Council, que caracteriza uma empresa como preocupada com a situação do planeta e passa esta imagem para o público.
Mas uma legislação mais clara e a desburocratização são, a meu ver, as etapas fundamentais para uma construção civil cada vez mais alinhada com as necessidades do nosso mundo. O Comitê Brasileiro de Construção Saudável (CBCS) é uma alternativa necessária para que os padrões brasileiros sejam mais bem entendidos e aproveitados.
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